Log Operação Santiago

8 a 16 Abril 2017

Dia 8

Saída de Lisboa, Igreja de Santiago, 9h30

O Valter estreou os incidentes logo passados uns minutos com uma queda. Perna traumatizada para o resto do dia. À noite, coxeia...

Passado o Trancão, falhámos o primeiro desvio. Nacional até Vila Franca, mas com duas excepções: despois de Santa Iría, um passadiço num sapal, e entre Alhandra e Vila Franca, um passeio marginal. Muito bom para fugir.

Entretanto, o Jorge furou antes de chegarmos a Santa Iría.

Almoçámos em Vila Franca no jardim. No café ficámos a saber que peregrinos são poucos, e os que há são maioritariamente estrangeiros.
Distinção entre os de Fátima e Santiago. Os primeiros muito pesarosos e desgraçados, os segundos num espírito e tom muito diferente.

Depois do repasto, Azambuja, onde o Jorge furou pela segunda vez, e onde falhámos um desvio também pela segunda vez. Resultado, ao invés da lezíria, nacional até Santarém...

Depois de uma paragem no Cartaxo para umas cervejas, sobe e desce, culminando na bela subida até Santarém a drenar as últimas reservas.

Com alguma surpresa, muitas cancelas fechadas ao longo de todo o caminho a dificultar-nos a passagem.

Muito calor para a época, o percurso todo. Sem surpresa, na aproximação a Santarém, o calor apertou mais.

O hostel muito interessante e jantar muito bom (no Sebastião).

Xiripiti para a sossega, amanhã há mais.

Dia 9

De Santarém a Tomar

Arranjar alforges e bikes.

Ainda antes da largada, passagem por um café onde encontrámos umas peregrinas que estavam a treinar para Fátima :)

Saída pela porta do Sol e o primeiro track. A partir daí, lezíria.

Cruzámo-nos com um grupo enorme de peregrinos.

Paragem para comer em Azinhaga, antes da Golegã.

Muito alcatrão até Tomar e o calor continua.

Chegados a Tomar e depois de umas cervejolas, separámo-nos do Paulo e do Valter junto ao Nabão.

Hostel em Tomar muito fixe.

Jantámos no "Do Fernando". Muito simpático.

Dia 10

De Tomar a... Coimbra? Nope! Rabaçal

Muito motivados passámos a ponte de Peniche :)

Mato, muito trilho, muito bonito. Mas muito, muito duro.
Progressão reduzidíssima. Andámos cerca de 5Km em 2h30.
Muito, muito calor. Muito calhau. Muito exaustivo.

Chegados a Alvorge, perto do Rabaçal, resolvemos tomar a nacional até lá. O sol estava a desaparecer.

No Rabaçal, o alojamento com bom aspecto, no "Rabaçal Inn".

Em contrapartida, o jantar foi sofrível. Pessoal com boa vontade mas com muitas limitações logísticas.
Pasteis de bacalhau com arroz de feijão e sopa a dividir pelos três.

De volta aos aposentos, feita a avaliação, ficámos a 30Km de Coimbra. Not good.
Resolvemos passar a avaliar a meio da tarde e tomar o alcatrão no final da etapa se necessário.

O Jorge aterrou mas acordou a meio da noite com um barulho. Ainda foi lá abaixo ver das bicicletas, mas afinal era o Coelho que estava a fazer barulhos com a boca, a dormir...

Dia 11

Do Rabaçal a Águeda, com Coimbra afinal só de passagem

Primeira novidade do Coelho pela manhã: o Jorge tem um furo. Depois de reparado, viu-se que havia outro. Depois de tudo arranjado, pequeno-almoço e saída rolante do Rabaçal.

Perto da subida para Conímbriga, um single track muito bom. Depois, o início da subida, primeiro algo suave, a meia-encosta, mas depois a doer. Percurso longo, com muito sobe e desce e terreno difícil.
O Coelho quebrou um elo. Depois de reparado, continuámos ao encontro do Jorge.
Muito, muito calor.

Depois de Conímbriga, mais alguns sobe e desces e chegámos finalmente a Coimbra, primeiro com uma descida em velocidade e depois voltando a subir, por Santa Clara, para voltar a descer e finalmente atravessar a ponte e chegar à praça do Comércio, onde comemos alguma coisa.

Depois do sempre difícil arranque pós-petisco, finalmente algum rolar durante uns quilómetros.
O calor continua e o andamento ressente-se.

Ainda com o objectivo em Albergaria, depois de um abastecimento de água, o meu suporte parte um apoio ao descer um passeio. Mais perda de tempo e distribuição de carga.

Tal como planeámos, atacámos o alcatrão na tentativa de alcançar o ponto mais perto com alguma probabilidade de conseguir alojamento, neste caso, Águeda.
Mais uns quilómetros de nacional, o sol já desaparecido e, a 2Km da chegada a Águeda, eu furo.
Na entrada de Águeda, umas bombadas, vai ter de aguentar até ao destino.

O destino, esse, a melhor possibilidade era uma residencial que funciona também como albergue, à saída de Águeda. Ou seja, mais uma subida para atravessar Águeda, antes de terminar o dia.

Residencial com boas condições. Problema: jantar. Solução: menina da residencial arranja takeaway.

O Coelho adormeceu com o copo de xiripiti no peito, sem entornar!

Continuamos a acumular atraso.

Dia 12

De Águeda ao... Porto? Sim, mas...

Determinados a recuperar o atraso e chegar ao Porto na data prevista... saímos de novo com atraso, para reparar o meu furo e o suporte e abastecer no Continente.

O calor mantém-se, já de manhã.

Com o andamento dificultado pelo calor, passámos Albegaria e em Oliveira de Azemeis decidimos tomar a nacional.
Perdemos muito tempo a tentar dar com a saída de Oliveira e sem o conseguir.

Continuando por aldeias e aldeolas, passado Santiago da Riba-Ul, mais de 2/3 da tarde passada, reunião de Conselho.
É impossível chegar ao Porto nestas condições, as únicas alternativas viáveis são ou desistir, coisa que ninguém queria, ou salvar a questão e fazer uma pequena batota.
Apanhámos o comboio para o Porto em Couto de Cucujães.

O Jorge ficou com uma grande telha mas acabou por aceitar os factos.

No Porto foi relativamente simples encontrar um hostel. Novo, aberto recentemente, ainda com muitos problemas de funcionamento. Muita preocupação com a aparência.

Durante o jantar resolvemos tomar a decisão mais racional. No dia seguinte seguíamos de comboio até Viana e daí padalávamos até Ponte de Lima, para finalmente acertarmos o passo com o planeado.

Dia 13

Do Porto a Ponte de Lima

Jorge com furo matinal.

Após um café com os pais e os putos do Coelho, apanhámos o comboio, primeiro suburbano para não ter problemas com as biciletas e onde se arranjou o furo do Jorge, e depois o intercidades até Viana.

De Viana a Ponte de Lima fizeram-se 25Km com muita calma e transformou-se o dia em descanso.

Conseguimos albergue em Ponte de Lima e jantámos muito bem no "Convento da Gula".

Dia 14

De Ponte de Lima a Redondela

O Valter juntou-se ao grupo pela manhã e após o pequeno-almoço atacámos os trilhos minhotos.
A paisagem e o caminho são de facto bastante diferentes do que até aqui.

O Jorge molhou os pés num pequeno riacho e ficou com frio o resto do dia.

O número de peregrinos pelo caminho aumenta substancialmente.

Fico um pouco para trás, perco os restantes de vista e faço um desvio que me leva a descer até ao rio, para ter de subir tudo novamente.

Sobe e desce de diferentes dificuldades, mas começam a notar-se as subidas mais sérias.

A determinada altura separámo-nos, o Valter e eu fomos dizer olá à Labruja, o Coelho e o Jorge, deram a volta. Vale a pena conhecer mas é duro. Bike às costas em certos pontos.

Reagrupámos em Rubiães, onde comemos uma sopinha e umas belas omoletes.

O dia esteve sempre encoberto, o que, comparativamente aos dias anteriores, facilitou a progressão.

O meu pedaleiro resolveu entrar na festa e perdeu um crank. O meu pensamento quando olhei foi que tinha terminado para mim.
O providencial kit de chaves do Valter tinha a chave certa, o que permitiu dar um aperto ao crank e continuar.

O resto do percurso foi o agora já habitual sobe e desce até Redondela. Aí chegados, albergue cheio. Às voltas, à procura, perguntámos a um casal que passava indicações sobre outros albergues.
Disponibilizaram-se prontamente, usando o seu próprio telemóvel, falaram com um conhecido que indicou um alojamento disponível. Catch: Tinhamos de fazer ainda mais 4Km.

Mais uma vez chegámos ao anoitecer e tivemos de comer à pressa num café perto (uns belos humburgueres, diga-se), porque o albergue fechava portas às 22h.

Dia 15

De Redondela a Teo. Ou não

O dia revelou-se outra vez mais quente. Como seria de esperar, revelou-se na progressão. Para mim e para o Coelho o cansaço acumulado revelou-se. Foi particularmente difícil para nós, embora o trajecto não fosse mais exigente que no dia anterior.
Em contrapartida, o Jorge andou tão motivado com o fim em vista, que já dizia olá a todos os peregrinos que encontrava.

Fizemos uma paragem poucos quilómetros mais à frente de Pontevedra para comer uma bela tortilha e lombo assado.

Depois de mais um dia de sobe e desce, chegámos finalmente ao nosso objectivo, Teo.
O albergue? Lotado.

Após um breve conselho, resolvemos continuar até encontrar um local. Fomos pela estrada na esperança que a probabilidade de encontrar hostels fosse maior. Nem por isso.

Apesar de tudo, a cerca de 4Km de Santiago, encontrámos condições suficientes: cama, refeição e banho quente.

Depois do banho, banquete.
Emparrillada que quase desapareceu no meio de um rodízio. O dono disse que não íamos passar fome e foi bem verdade.

Conversa mais leve, a rever os dias passados, pesar os erros e... planear futuros caminos??
Acabámos a rever situações, fotos e com a garrafa de xiripiti.

Dia 16

Por fim, Compostela

Epílogo

A dois anos de distância, só agora li (e transcrevi aqui), o manuscrito.

A primeira impressão é que, estranhamente, fui muito telegráfico. A segunda, é que ficou tanto por dizer, que parece que o foco estava noutro lado na altura.
Talvez reflexo do cansaço e do estado de espírito de então.

Mas ao ler e recordar, dá vontade de acrescentar pontos ao conto... Aqui vai.


Dia 8

Saída de Lisboa, Igreja de Santiago, 9h30

Depois da subida na chegada a Santarém, só me lembro do homem da estalagem a olhar para o relógio quando dissemos que tinhamos saído de Lisboa às 9h30...

Dia 9

De Santarém a Tomar

No final do dia, no hostel, o Jorge foi tomar banho e eu e o Coelho fomos dar uma volta para conhecer os aposentos. Demorámos algum tempo, voltámos ao quarto e ficámos um pouco à espera do Jorge.
Passado algum tempo, ele não aparecia, resolvemos ir nós tomar banho. Quando lá chegámos, estava ele à espera a ver se um de nós resolvia aparecer porque ele se tinha esquecido da toalha...

Apesar de terem sido apenas dois dias passados a cinco, ficou no ar um sentimento estranho no fim do dia, após o Paulo e o Valter terem ido embora. Apenas dois dias, mas muita coisa em conjunto.

Dia 10

De Tomar a... Coimbra? Nope! Rabaçal

É impressionante a prática que se ganha em apontar rapidamente os olhos para os sítios prováveis onde encontrar uma seta amarela. Apesar disso, algumas dificuldades em dar com a saída urbana e entrar no caminho. Sempre difícil e escusa, a ponte de Peniche.

Estranho não ter mencionado o episódio da queda do Jorge na sua busca por laranjas sem desmontar da bike.

Quando penso no jantar daquele dia, penso sempre no Jorge a reclamar como era possível nem terem uns queijinhos à mesa. Como é possível? No Rabaçal!

E à noite na estalagem. Se bem me recordo supostamente havia mais alguém lá hospedado, mas não quisemos saber e trouxemos o pinchavelho do wi-fi, das escadas para o nosso quarto.

Dia 11

Do Rabaçal a Águeda, com Coimbra afinal só de passagem

Dos dias mais difíceis. E o mais longo.

Como esquecer, depois do Coelho partir o elo, quando chegámos ao pé do Jorge, estava ele deitado a falar com o sol.

Foi neste troço também que começámos com a técnica das subidas em SS :)

Incrível o tempo que demorámos no almoço em Coimbra.

E o jantar de takeaway em Águeda, na cozinha, nas covetes cheias de gordura. Depois de todo aquele dia, a comida não foi reconfortante.

Nunca mais me esqueci do roteiro do Caminho que tinham na recepção da residencial, com a altimetria das etapas. Que perspectivas: o que fizemos e o que faltava. Deviamos ter gamado :)

Dia 12

De Águeda ao... Porto? Sim, mas...

Não mencionei o espaço exíguo onde viajámos no comboio, amontoados nós e as bikes. Nem no revisor no Porto, de fato e gravata, a dar sermões à malta, todo senhor da sua carruagem :)

Dia 13

Do Porto a Ponte de Lima

O melhor episódio do início do dia não foi o Jorge ter mais um furo. Foi o Jorge ter ido pôr a roupa a lavar na lavandaria que afinal era só para serviço do hostel, com o homem a reclamar atrás dele.

No registo no albergue em Ponte de Lima perguntarem que Caminho estavamos a fazer. O Coelho diz central, mas tínhamos vindo de Viana. Então, estão a fazer o da Costa? Não, é uma mistura... Ficou por aqui a conversa :)

Dia 14

De Ponte de Lima a Redondela

Depois de Rubiães pedalar mais de um lado do que do outro. Dass.

Mas valeu a ajuda do desconhecido em Tui que nos arranjou uma chave para dar mais um aperto valente ao crank e nos mostrar a sua bela bike inglesa que afinal... era de Águeda.

E a felicidade do Jorge em Redondela quando o casal nos arranjou albergue? Até a mulher levou um beijo.

Carai! Única expressão da rapariga do albergue quando soube que vinhamos a fazer o Caminho desde Lisboa.

Bom, e o Valter que levou uns olhares de soslaio quando ia pernoitar sem caderneta? Carai, ia ficando na rua, perdão, na calle.

Mas valeu bem a hamburguesa no final do dia, mesmo que tenha sido a correr.

Dia 15

De Redondela a Teo. Ou não

Mais que o cansaço, o que mais retenho foi a desilusão e frustração que tivemos em Teo. Depois disso, só me lembro da subida interminável em direcção a Santiago, e, olhando para a frente, ver o Valter a fazer de batedor para trás e para a frente à procura de albergue, olhando para trás, só via o Coelho a arrastar-se, a arrastar-se...

Dia 16

Por fim, Compostela

Esta entrada nunca foi escrita.

Foram meia dúzia de quilómetros sem história até à praça e depois... o que se passou está claro no vídeo.

Só posso dizer que foram uns dias inesquecíveis de partilha com bons amigos.

Naquela manhã, para além das emoções, outra coisa me marcou. Quando fomos buscar a compostela, a pergunta: qual a razão de fazer o Caminho? Religiosa, Espiritual ou Turística?
Apesar da camaradagem, a dureza não se coaduna com turismo. Para um ateu, nunca poderia ser religiosa. E ali, naquele momento, percebi o alcance que a palavra espiritual pode ter.
Dificilmente alguém fará o caminho saíndo inalterado da experiência.